Em frente ao espelho com Leila Diniz
Paulo José Cunha
Onde sou mais Paulo em Leila?
Na exibição ostensiva da prenhez
(prenhez que a natureza me negou)
A vida em gestação, erguida
na barriga revelada na inteireza:
ei-la, minha barriga: é a vida!
Prenhez exibida na certeza
de que na explosão da vida
não há lugar pra pudor,
nem rubor de polidez
Onde mais Leila ocorre em mim?
Na vontade de ser só o que sou.
Na ausência de culpa, no prazer
de viver tudo por um triz.
Neste Paulo, inclusive José,
ser todo meu, completo, ao meu dispor
E Leila ser toda dela,
egoisticamente Diniz.
Onde sou mais Leila e seu sorriso?
Na vontade de não ter medo,
e no medo enorme que ela sentia
(que também sinto)
sem nem por isso deixar de mergulhar
no fundo do barril de absinto.
Na mulher solar, absoluta,
que para ser o que quis
foi inconveniente, infeliz,
mas de todas a melhor atriz
quando se fingiu até de puta
pra provocar os imbecis.
Onde Leila é mais eu,
e onde sou mais ela em mim?
Na vontade de ser isto que sou
com os erros, os acertos e os vacilos
e Leila, pelo medo sem grilos,
fêmea completa,
ensinando os homens a ser machos
para com sua força de macho lutarem
até que todas as mulheres do mundo
sejam o que Leila foi e o que Leila é:
maravilhosa, linda, insubmissa,
doida adorada, gostosa, iluminada
em verso e prosa,
apenas, tão-somente,
uma mulher.